CONTA QUEM SOMOS - PRETOS VELHOS
- Flavio Santana de paula
- 14 de mai.
- 2 min de leitura
Fala mansa, sentado num banco, pitando seu cachimbo, com seu pretinho do lado fumegante e cheirando a canela, com um galho de arruda atrás da orelha e o rosário enrolado no pulso.
Quem nunca se deparou com um preto velho cheio de sabedoria e ensinamentos na sua vida, está perdendo uma das melhores conversas possíveis. Donos de uma sabedoria e paciência sem igual, qualquer um se encanta quando trocam palavras com esses seres maravilhosos.
Mas... será que isso realmente é o que os pretos velhos são? Por trás de toda amabilidade, paciência e sabedoria, existe uma história de sofrimento, humilhação e muita, mas muita violência.
Uma das falanges mais conhecidas da Umbanda e parte do pilar estrutural da religião, é composta basicamente de negros que foram escravizados, trazidos de diferentes cantos da África para o Brasil, para que fizessem apenas o que o homem branco julgava que eram capazes: trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Organizados em senzalas, esses negros sofriam as maiores barbáries já cometidas pelo homem. Eram violentados física, moral e espiritualmente, tendo sua liberdade tolhida em todos sentidos. Não tinham liberdade de ir e vir, de se alimentar de forma digna, de vestir, de cultuar... absolutamente NADA.
E aí entra uma das imagens mais romantizadas da Umbanda: os pretos velhos gratiluz, paz e amor. Não, eles não são paz e amor! Um preto velho kinzombeiro, faz coisa que deixaria Exu de cabelo em pé! São mirongueiros de primeira e detentores do conhecimento de feitiços aparentemente ingênuos mas que são capazes de derrubar um homem forte e adulto. Experimente não andar na linha estando sob a tutela de preto velho... Literalmente, a bengala come! Quem nunca tomou uma surra de preto velho, não queira saber qual é a sensação de apanhar de um espírito tão poderoso como eles.
Cada vez que romantizamos essas entidades, estamos anulando toda sabedoria deles, seja para o bem ou para o "mal". Eles fazem o que for preciso.
E como diria Pai João de Angola: "com a fumaça do meu cachimbo, eu derrubo um"
Texto: Roberta Franciscati
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