O FARDO QUE NINGUÉM VÊ
- Flavio Santana de paula
- 2 de jun.
- 2 min de leitura
Quantas pessoas você conhece que "do nada" se tornaram sacerdotes de umbanda? Que do dia para a noite, decidiram abrir suas casas?
Quantas dessas pessoas realmente tem chamado para o sacerdócio - não aquele chamado que a pessoa simplesmente diz sentir, mas aquele que as próprias entidades anunciam e cobram? Quantas são por mero ego?
É muito romantizado o sacerdócio, sejam qual religião for. As pessoas acham bonito estar a frente de uma casa de qualquer religião, comandando dezenas, centenas e por vezes, milhares de pessoas. Acham bonito a imponência e o poder que aquela figura e seu cargo transmitem. Mas, alguma vez você já parou pra pensar no fardo que ninguém vê no sacerdócio?
O sacerdócio pesa. É solitário. Por mais que você tenha para onde correr, aquele colo que te acalenta, seja espiritual, seja físico, quando você está lá, comandando o "show", você está sozinho. E aí que o peso se mostra.
Ninguém sente o que o Pai de Santo sente: a frustração quando as coisas não caminham como deveria; a dor da perda de um filho de santo que deixa a casa; a indignação e humilhação quando este é mal falado por pessoas que antes o aclamavam como "salvador da pátria"; a responsabilidade de cuidar da espiritualidade e orientar na vida de cada um de seus filhos; e, acima de tudo: não ter ninguém que entenda realmente tudo isso.
Sacerdócio é feito de amor e é um dos amores mais ingratos que podem existir. É o amor que tem que estar disposto a passar por ingratidões, por julgamentos, por dedos apontados, sem conseguir se defender, pois, apesar de tudo, ele ainda ama aquele filho.
Sacerdócio é doação, sem esperar absolutamente nada em troca. E, ao mesmo tempo, esperar do fundo do coração que cada um evolua em sua caminhada. É ter um pedaço de cada um dentro de si e, as vezes, não ter nenhum pedaço seu dentro deles.
O sacerdócio é amor, dedicação, plantio, colheita, responsabilidade. Mas é fardo. E quem escolhe isso apenas por ego, não sabe o que é realmente ser pai ou mãe de uma casa.
Texto: Roberta Franciscati
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