PORTÃO DE FERRO, CADEADO DE MADEIRA
- Flavio Santana de paula
- 19 de abr.
- 2 min de leitura
"Portão de ferro, cadeado de madeira" é um ponto que, mais do que palavras, carrega símbolos. À primeira vista, parece só uma imagem contraditória: um portão resistente, pesado, sólido — trancado por algo frágil, vulnerável, fácil de romper. Mas como tudo que é cantado com fé e verdade, há um sentido oculto, uma mensagem que ultrapassa o literal. Esse ponto nos provoca a pensar sobre a falsa sensação de segurança, sobre o desequilíbrio entre aparência e essência.
Quantas vezes na vida não mostramos força por fora, enquanto por dentro estamos frágeis, despreparados, abertos demais a tudo o que pode nos desequilibrar? O portão de ferro pode representar nossas defesas emocionais, espirituais, nossos discursos e posturas. Já o cadeado de madeira fala sobre os detalhes que negligenciamos — os pequenos pontos que podem ser o elo fraco da corrente. Essa imagem nos lembra que não adianta vestir armaduras se o coração está desprotegido. Que não basta falar bonito, se a ação não sustenta a palavra.
Mas o ponto também pode ser lido de outra forma: como um recado sobre os mistérios. Nem tudo que parece forte, realmente é. E nem sempre a fragilidade é sinal de fraqueza. O cadeado de madeira pode simbolizar a simplicidade, o segredo, o invisível que protege com mais eficácia do que a força bruta. Na gira, no dia a dia ou na vida espiritual, muitas vezes o que guarda, segura e protege não é o que se vê — é o que se sente, o que vibra, o que se respeita. E é nesse espaço sutil que o trabalho é feito, muitas vezes em silêncio.
E é aí que entra a força da frase "Exu toma conta e presta conta". Porque Exu vê o que ninguém vê. Ele enxerga além do portão e além do cadeado. Ele toma conta do que é seu por direito, cuida das encruzilhadas e dos caminhos com sabedoria. E mais do que isso, ele presta conta: responde, dá retorno, exige postura e verdade. No mundo visível e no invisível, Exu equilibra o jogo. Ele ensina que não basta parecer forte — é preciso estar alinhado com o que se sustenta. Porque quando Exu toma conta, nada passa despercebido. E quando presta conta, tudo se revela.
Texto: Roberta Franciscati
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